Por Eduardo Sousa
Agosto, o Mês da Visibilidade Lésbica no Brasil, é um período de reconhecimento e celebração da luta histórica das mulheres lésbicas por equidade, dignidade e respeito. Essa trajetória remonta a eventos marcantes, como o Levante do Ferro’s Bar, em 1983, quando lésbicas protestaram contra a discriminação em um bar em São Paulo. Essa data ficou conhecida como o Dia do Orgulho Lésbico, comemorado em 19 de agosto. Além disso, o Dia da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto, surgiu como homenagem ao 1º Seminário Nacional de Lésbicas, realizado em 1996. Essas datas ressaltam a resistência e a busca por direitos, mas também levantam a questão: "Faz de conta até quando?" Até quando será necessário um mês dedicado à visibilidade para que lésbicas sejam respeitadas?
Apesar de avanços significativos na legislação, como a criminalização da homofobia e transfobia em 2019, as mulheres lésbicas continuam a enfrentar enormes desafios. Um exemplo claro é o crescente número de lesbocídios no Brasil. Segundo o Dossiê Sobre Lesbocídio, entre 2014 e 2017, 126 mulheres lésbicas foram assassinadas, e 33 se suicidaram, vítimas de violência motivada pela lesbofobia. Esses números não param de crescer. Em 2023, o Brasil registrou um aumento alarmante de 31% nos casos de lesbocídio em comparação com o ano anterior. Além disso, 45% das vítimas eram mulheres negras, evidenciando como a interseção entre racismo, machismo e lesbofobia agrava ainda mais a violência sofrida por essas mulheres.
Além dos números alarmantes de lesbocídios, as mulheres lésbicas continuam a ser marginalizadas e invisibilizadas em muitos aspectos da sociedade. Um estudo recente revelou que 63% das mulheres lésbicas enfrentam discriminação no ambiente de trabalho, e 72% relataram terem sido vítimas de assédio verbal ou físico devido à sua orientação sexual. Esses dados são um reflexo da violência estrutural que ainda permeia a vida dessas mulheres, que, além de lutar por sua sobrevivência, precisam lidar com a constante desvalorização de sua identidade.
Rosely Roth, ativista lésbica
Reprodução: Internet
O que torna a luta por visibilidade ainda mais urgente é o fato de que, apesar das conquistas legislativas, grande parte dos direitos da população LGBTI+ no Brasil não está garantida na Constituição, dependendo de decisões do STF, que podem ser revertidas. Assim, a garantia de direitos permanece instável, e a luta precisa ser constante. Diante de um cenário de violência crescente, é fundamental que a sociedade e os governantes entendam que não basta apenas "fazer de conta" que as lésbicas são tratadas de forma igualitária. É necessário um compromisso real com a implementação e proteção dos direitos dessas mulheres.
É evidente que o caminho para a equidade ainda é longo. Enquanto o Brasil permanece como um dos países que mais mata pessoas LGBTI+ no mundo, os números de lesbofobia e lesbocídio continuam a aumentar. De acordo com um levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia, em 2023, 404 pessoas LGBTI+ foram assassinadas no Brasil, sendo 17% dessas vítimas mulheres lésbicas. Esse dado revela não apenas a brutalidade das estatísticas, mas a urgência de políticas públicas que protejam efetivamente a vida das mulheres lésbicas. Afinal, até quando iremos fazer de conta que essa realidade não existe?
Assim, o Mês da Visibilidade Lésbica não é apenas uma celebração, mas um lembrete constante da luta que essas mulheres travam diariamente. É um convite à sociedade para que pare de "fazer de conta" e comece a agir concretamente em prol da justiça, da igualdade e da segurança das mulheres lésbicas no Brasil.
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