Adultização, Exploração de Menores e a Proteção da Juventude LGBTQIA+ nas Redes Sociais: Um Debate Urgente
- TriboQ Q
- 12 de ago.
- 3 min de leitura
Por Eduardo Sousa
Nos últimos dias, a denúncia feita pelo youtuber e humorista Felca contra o influenciador digital Hytalo Santos ganhou repercussão nacional e reacendeu um debate essencial sobre os limites do conteúdo que envolve crianças e adolescentes nas redes sociais. Felca, conhecido por sua atuação crítica e engajada, denunciou o que chamou de "adultização" e exploração de menores, especialmente a sexualização precoce desses jovens em vídeos e publicações que alcançaram milhões de visualizações.

Reprodução: Internet
.
A denúncia atingiu em cheio Hytalo, influenciador paraibano que acumulava mais de 17 milhões de seguidores no Instagram, plataforma na qual teve seu perfil desativado após as acusações.
O caso de Hytalo Santos não é isolado, mas um sintoma da crescente dificuldade em proteger crianças e adolescentes de formas sutis, porém nocivas, de exploração digital. A adultização, conceito que tem sido discutido em círculos jurídicos e sociais, refere-se ao processo pelo qual crianças e adolescentes são expostos a conteúdos, comportamentos e responsabilidades tipicamente adultos, muitas vezes sem o devido preparo ou consentimento. Nas redes sociais, isso se manifesta em vídeos e posts que sexualizam a imagem de menores ou que os colocam em situações que ultrapassam os limites da inocência e da proteção legal.
O Ministério Público da Paraíba já iniciou investigações para apurar se os conteúdos produzidos por Hytalo violam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é claro na defesa da integridade física, emocional e psicológica dos menores. A repercussão do caso traz à tona não apenas as falhas das plataformas em fiscalizar conteúdos sensíveis, mas também os perigos que envolvem a exposição precoce das juventudes nas redes, em especial quando falamos de grupos vulnerabilizados como a comunidade LGBTQIA+.
Jovens LGBTQIA+ enfrentam um conjunto de desafios e violências que tornam essa discussão ainda mais urgente. É sabido que essa parcela da população tem índices mais elevados de rejeição familiar, bullying e abandono, situações que frequentemente os empurram para a internet em busca de pertencimento, expressão e suporte. No entanto, sem ambientes virtuais seguros, esses jovens correm o risco de se tornarem vítimas de exploração emocional, financeira e sexual. A sexualização precoce e a adultização nessas condições são particularmente perigosas, pois reforçam estigmas, perpetuam preconceitos e podem agravar traumas.
Além disso, a questão da autonomia é delicada. Em muitos casos, menores LGBTQIA+ se veem pressionados a expor sua identidade, corpo e histórias pessoais de forma não protegida, seja por influência de adultos, seja pela própria lógica das redes que favorece a viralização e a exposição extrema. O impacto disso pode ser devastador para a saúde mental desses jovens e para sua segurança física.
A denúncia de Felca serve, portanto, como um chamado para uma reflexão ampla sobre a responsabilidade de todos os atores envolvidos — desde os criadores de conteúdo até as plataformas digitais, passando por familiares, educadores e o sistema jurídico. A proteção dos direitos infantojuvenis na era digital exige um olhar atento, que reconheça as especificidades da comunidade LGBTQIA+ e a necessidade de promover espaços verdadeiramente acolhedores e seguros para que esses jovens possam existir e se expressar sem medo.
É importante destacar que, embora o termo "adultização" não esteja descrito como crime específico na legislação brasileira, o ECA é contundente em proibir qualquer forma de exploração, abuso e constrangimento envolvendo menores. O que está em jogo é a garantia do direito à infância e à adolescência como etapas protegidas, nas quais o desenvolvimento integral e o respeito à dignidade devem prevalecer.
O caso recente ainda está em investigação, e as ações judiciais prometem avançar para responsabilizar possíveis infratores. Enquanto isso, é fundamental que a sociedade civil mantenha o debate vivo, cobrando transparência das plataformas, investimentos em educação digital e políticas públicas que ampliem a proteção das juventudes, com destaque para a interseccionalidade que marca a vivência LGBTQIA+.
A internet pode ser um espaço potente de transformação social, expressão e encontro, mas precisa ser também um lugar seguro, onde crianças e adolescentes, especialmente aqueles que já enfrentam múltiplas formas de vulnerabilidade, possam crescer e se desenvolver longe da exploração e da exposição indevida.
Assim, a denúncia de Felca não é apenas uma denúncia contra um influenciador específico, mas um alerta sobre um fenômeno que atravessa toda a cultura digital contemporânea, chamando-nos à responsabilidade coletiva para que a infância e a juventude sejam respeitadas e protegidas em todas as suas formas e diversidades.
Comentários