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Entre Avanços e Lacunas: a representatividade LGBTQIA+ no audiovisual brasileiro

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    TriboQ Q
  • 5 de ago.
  • 3 min de leitura

Por Eduardo Sousa


A representatividade LGBTQIA+ no audiovisual brasileiro tem avançado com determinação nos últimos anos, especialmente em torno de 2024 e 2025, mas ainda enfrenta lacunas persistentes que reforçam estereótipos e invisibilizam muitas identidades da comunidade.


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Reprodução: Internet


Um estudo global da Paramount Global mostrou que 60% das pessoas LGBTQIA+ no Brasil se sentem mal representadas na TV, evidenciando a fragilidade da presença real e empoderada desses grupos nas telas. Apesar de um crescimento de narrativas, a visibilidade ainda é majoritariamente limitada a gays cis e brancos — nos folhetins até 2015, por exemplo, entre 126 personagens LGBTQIA+, 76 eram homens gays cis, apenas 9 eram pessoas trans, 24 lésbicas e 16 bissexuais; e apenas quatro eram negros.


No ambiente comercial audiovisual, a estrutura de geração de conteúdo segue elitista e pouco permeável: direção, roteiros, produção e tomadas de decisão ainda são majoritariamente ocupados por homens brancos e cis de classes altas. Mesmo com abertura gradual desde 2021 para pessoas trans e periféricas, essas são exceções — o cinema independente continua sendo o principal espaço de resistência e inovação.


No circuito de festivais independentes, obras como Valentina, Madalena e Paloma destacam-se por trazer protagonismo a mulheres trans negras e periféricas — porém, segundo levantamento da Mostra de Tiradentes (145 filmes), apenas seis tinham personagens trans como protagonistas, apenas 4,1% do total. Recentemente, o filme Baby (2024), dirigido por Marcelo Caetano, recebeu elogios por retratar com profundidade diferentes gerações de homens gays em São Paulo, incluindo o enfrentamento da violência policial e a celebração da amizade, do amor e da festividade na cidade.


Ainda assim, de acordo com o GLAAD Studio Responsibility Index, em 2023 a representatividade LGBT em filmes foi de apenas 27,3%, ligeiramente menor que em 2022, e houve uma queda significativa na quantidade de personagens trans — apenas dois filmes entre os analisados os incluíram, e um deles reforçava discurso transfóbico.


Nas redes e fóruns, muitas pessoas LGBTQIA+ expressam frustração com a forma como são retratadas: “Nas redes sociais eu me sinto mais representado… o que eu mais sinto falta é de verossimilhança. Nem todo casal gay mora no Leblon, nem toda travesti vira drag”, comentou um usuário no Reddit. Outra usuária, lésbica, escreveu: “Consigo nomear vários filmes com protagonistas gays e apenas três com lésbicas… sinto que ainda falta um esforço para representação melhor do nosso grupo.” Esses relatos revelam padrões persistentes: personagens LGBT muitas vezes são usados como token ou alívio cômico, suas sexualidades são o único traço relevante de suas personalidades, e o afeto queer frequentemente é censurado ou evitado, especialmente em produções de massa.


Contudo, há sinais de mudança positiva. Em 2025, séries como Da Ponte Pra Lá (Max) introduziram protagonistas negros e trans como o dramático Victor Liam; já a segunda temporada da série Justiça (Globoplay) trouxe de forma central a relação entre duas mulheres como trama principal. Esses são indícios de que afeto queer, narrativas lésbicas e trans estão ganhando visibilidade nas grandes plataformas.


Além do conteúdo, há vozes influentes mudando os bastidores: profissionais como Rafaela Camelo (produtora da Apoteótica Cinematográfica) e Chica Andrade (diretora, atriz e ativista) têm criado espaço para narrativas trans e LGBTQIA+ negras, atuando diretamente na construção e decisão de projetos autorais e diversos. Entidades como o Museu da Diversidade Sexual atuam como ponto de articulação e crítica, ressaltando a importância de representar vidas cotidianas em roteiros, e não apenas momentos de conflito ou trauma.


Apesar dos caminhos, os desafios permanecem: normalizar a presença LGBTQIA+ em produções mainstream além de folhetins específicos ou festivais; investir em roteiros e personagens cuja sexualidade seja apenas um traço natural e não o núcleo da narrativa; ampliar protagonismos lésbicos, bissexuais, trans, negros e não bináries; e garantir que esses grupos também estejam nos bastidores, desde produção executiva até direção.


No contexto das redes sociais e do audiovisual digital, fenômenos como a websérie A Melhor Amiga da Noiva (mais de 45 milhões de views no YouTube) mostram que há público e demanda por obras autênticas e orgânicas que não dependem de grandes estúdios. Esse tipo de produção comprova que identidade e audiência podem andar de mãos dadas sem estereótipos.


O Brasil vive um momento híbrido: avanços reais e inéditos, especialmente no audiovisual de autor e nas vozes periféricas e trans, ao mesmo tempo em que permanece desigual nos mecanismos comerciais e institucionais. Para consolidar uma representatividade madura e inclusiva, é preciso continuar ampliando a diversidade em todos os níveis e nas narrativas do cotidiano, fortalecendo histórias cujos protagonistas não sejam exceções, mas pessoas como muitas de nós.os, todas e todes tiverem vez.

 
 
 

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