Por Eduardo Sousa
Preta, latina e LGBTQIA+ a Cultura Ballroom é, em sua pura existência, um movimento político que celebra a diversidade de gênero, sexualidade e raça.
Panorama histórico
Os primeiros registro de ball são de 1849, no primeiro “Annual Masquerade and Civic Ball”, realizado pela Grand United of Odd Fellows, Harlem. A partir disto, o subúrbio de Nova Iorque se estabeleceu como o lugar de partida e de essência da cultura ballroom.
Entre 1920 e 1930, também no Harlem, se iniciou um movimento cultural substancialmente negro, hoje conhecido como Harlem Renaissence. Com muitos de seus líderes sendo gays e lésbicas, esse movimento influenciou a organização de uma cultura LGBTQI+ negra, que se tornou vívida na região. Mais a frente, na década de 1960, concursos de beleza protagonizados por Drag Queens e pessoas transgêneres eram bastante comuns. No entanto, aqueles que não se enquadravam no padrão branco e europeu de beleza, não eram incluídos.Em 1972 aconteceu, então, o "Crystal & Lottie LaBeija presents the first annual House of Labeija Ball", também no Harlem. Ou seja, esse foi o primeiro baile anual da House of Labeija e, também a primeira ball feita por uma house. Assim, com um intuito de inserir e acolher novos corpos, surgiram os moldes da Cultura Ballroom como conhecemos.
Com o ambiente sociocultural da década de 1980, privilegiando homens cis brancos, se fez ainda mais necessária a criação de espaços para que a comunidade LGBTQIA+ tivesse a chance de exercer sua elegância, beleza, arrogância e sagacidade, sem correr o risco de serem julgados. Assim surgiam as balls.
Com a criação das Houses e o desenvolvimento das balls direcionadas exclusivamente a grupos marginalizados, foi construído um local de segurança. A dinâmica exercida, possibilitaria liberdade para ser e performar sem as amarras da sociedade branca, cis e heterossexual.Em uma curta definição, as Balls são eventos e cerimônias organizadas com fins políticos e de entretenimento. São locais de diversão, livre expressão e acolhimento de corpos marginalizados, por isso, são políticas em sua simples existência. Nelas se desenvolvem os elementos da cultura: as categorias de dança, caracterização e performance, com temas e no formato de batalhas. Através das vitórias, houses e participantes desenvolvem a sua reputação e legado.
Q.Ball no TriboQ Pride Festival
O movimento começou a formar um alicerce forte no Brasil a partir de profissionais da dança que estudaram mais sobre a cultura Ballroom, possibilitando assim evoluir os acessos e aprendizados. Assim como nos EUA, a cultura busca exaltar os corpos marginalizados e, fora dos palcos, cria uma relação de união entre eles.
A TriboQ, e seus idealizadores, já vinha em um movimento constante de aproximação desta cultura, anterior à concepção do festival, por acreditar que esses diversos grupos de resistência é que formam a nossa Tribo.
De toda essa construção e admiração, veio o espaço para o BallRoom no primeiro TriboQ Pride Festival. A produção, feita por Maju Freitas, em parceria com a House of Império e a Casa de Cosmos, duas casas consagradas do Rio de Janeiro, organizou workshops gratuitos, para aproximar ainda mais a nossa comunidade à cena, que culminaram em dois grandes balls que aconteceram no palco Vera Verão, o palco principal do festival, na Praça Mauá.
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