Stonewall 1969–2025: Orgulho é resistência ontem, hoje e sempre
- TriboQ Q
- 2 de jun.
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Por Eduardo Sousa
Na madrugada de 28 de junho de 1969, quando policiais invadiram o Stonewall Inn — um bar frequentado por pessoas LGBTQIA+ em Nova York —, não esperavam resistência. Mas ela veio. Liderada por pessoas marginalizadas, especialmente travestis, mulheres trans negras e latinas como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, aquela revolta foi o estopim de um movimento global por dignidade, visibilidade e liberdade. Nascia ali o que viria a ser o Mês do Orgulho, muito antes das bandeiras nas vitrines e dos slogans publicitários.
Mais de meio século depois, chegamos a junho de 2025, ainda marcados pela luta. Orgulho, hoje, continua sendo um ato político, um gesto de coragem e, sobretudo, de resistência.
O mundo vive uma onda de retrocessos. Políticos conservadores, líderes religiosos e grandes grupos econômicos têm alimentado um discurso anti-direitos, criminalizando identidades e censurando expressões de diversidade. A organização ILGA World aponta que 64 países ainda criminalizam relações entre pessoas do mesmo sexo. Em sete deles, essa criminalização pode levar à pena de morte. Além disso, 61 países restringem a liberdade de expressão sobre diversidade sexual e de gênero, dificultando o trabalho de coletivos, ativistas e organizações que lutam por igualdade.

Na Hungria, por exemplo, uma nova legislação proibiu pela primeira vez uma marcha contra a homofobia e a transfobia. A justificativa foi a já conhecida retórica de proteção da moral pública, mas o objetivo é outro: suprimir a presença LGBTQIA+ dos espaços públicos. No Reino Unido e na Itália, políticos de direita têm atacado programas educacionais inclusivos, alegando “ideologia de gênero” para justificar cortes e censuras.
Nos Estados Unidos, o cenário é igualmente alarmante. Somente em 2025, mais de 850 projetos de lei anti-LGBTQIA+ foram apresentados, segundo o Trans Legislation Tracker. É o maior número já registrado. Desses, 109 já foram aprovados. Leis que restringem o acesso de pessoas trans à saúde, ao uso de nomes sociais em escolas e ao direito de circular em espaços públicos de acordo com sua identidade. Um levantamento da GLAAD mostrou que, entre maio de 2024 e abril de 2025, ocorreram 930 incidentes anti-LGBTQIA+, com metade deles voltados contra pessoas trans e não binárias.
E no Brasil? Mesmo com esforços do governo federal para implementar políticas públicas inclusivas, como uma agenda nacional de combate à violência LGBTQIA+, a pressão de grupos conservadores continua forte. Projetos de lei que tentam censurar conteúdos escolares, vetar o uso de linguagem neutra ou proibir campanhas publicitárias inclusivas seguem sendo apresentados. O discurso de ódio se mantém vivo nas redes, nas igrejas e até nas tribunas parlamentares.
Por isso, o orgulho em 2025 precisa retomar o seu significado mais profundo. Ele não é só celebração, embora também seja. É resistência. É um lembrete de que não basta ser aceito — é preciso ser respeitado. Não basta existir — é preciso viver com dignidade. E não basta viver — é preciso ocupar, transformar, construir futuro.
A história de Stonewall não é uma lembrança distante. Ela continua ecoando em cada marcha impedida, em cada lei que retira direitos, em cada ataque sofrido por quem ousa existir fora das normas impostas. É nossa origem e nossa direção.
Neste mês do orgulho, mais do que nunca, precisamos reafirmar: orgulho é verbo. Orgulhar-se, levantar-se, resistir. Porque toda vez que o mundo tenta nos empurrar de volta para a invisibilidade, lembrar Stonewall é lembrar que já dissemos “basta” — e que continuaremos dizendo.
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