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Arte Drag: História, Revolução e Presença no Brasil

Por Eduardo Sousa


A arte drag possui raízes profundas que remontam à Antiguidade, com suas primeiras expressões surgindo na Grécia, por volta do século V a.C. Naquele período, mulheres não podiam atuar, e homens assumiam papéis femininos nas peças teatrais. Práticas similares foram registradas no teatro Kabuki, no Japão (século XVII), e na Ópera de Pequim, na China (século XVIII), onde a interpretação de mulheres também era feita por homens de forma performática e estilizada. Na Era Elisabetana, na Inglaterra, as peças de Shakespeare seguiam essa tradição. No entanto, foi apenas no século XIX que o termo “drag” começou a se associar à homossexualidade e à vida alternativa, migrando gradualmente para espaços mais marginais.


A Revolução Drag no Século XX

O século XX marcou uma virada para a arte drag, especialmente com o termo “drag queen” ganhando força e a caracterização do feminino se tornando mais exagerada e caricata. Nos anos 1970 e 1980, drag queens começaram a aparecer na mídia, embora o preconceito ainda fosse significativo, principalmente durante a epidemia de AIDS, que reforçou estigmas na comunidade LGBTQIA+. O cenário mudou com figuras como RuPaul Charles, que ajudaram a trazer a arte drag para o mainstream.


A Expansão da Arte Drag no Brasil

No Brasil, a cena drag ganhou força nos anos 1990, inicialmente conhecida como “transformismo”. Durante a ditadura militar, grupos como o Dzi Croquettes desafiavam a moralidade e as normas vigentes, abrindo caminho para a expressão artística drag. A popularidade do filme Priscilla, a Rainha do Deserto (1994) também impulsionou o interesse pelo drag no país. Artistas como Silvetty Montilla, Salete Campari, Vera Verão e Miss Biá pavimentaram o caminho para as novas gerações. Hoje, artistas como Pabllo Vittar, Gloria Groove e Suzy Brasil ampliaram os limites da arte drag, levando-a para o mainstream brasileiro e conquistando sucesso em várias mídias.


RuPaul’s Drag Race e a Consolidação da Arte Drag no Mainstream


O programa RuPaul’s Drag Race, lançado em 2009, foi um marco fundamental para a popularização da arte drag em escala global. Idealizado por RuPaul Charles, o reality show trouxe a arte drag para o centro do entretenimento, promovendo uma competição de talento que exalta a criatividade, coragem e identidade dos participantes. Com desafios variados, RuPaul’s Drag Race mostrou ao público o que ocorre nos bastidores e o trabalho árduo que envolve a criação de uma personagem drag, do figurino à maquiagem e performance.


A série transformou-se em um fenômeno cultural, atraindo milhões de fãs e ampliando o reconhecimento da cultura drag em diversos países. Além disso, o programa abriu caminho para a criação de franquias internacionais, incluindo versões do reality show em países como Reino Unido, Canadá e até uma versão brasileira, com destaque para as participações de Organzza e Shannon Skarllet que repercutiram muito nas redes sociais, demonstrando a universalidade e o apelo crescente dessa forma de arte.

No contexto brasileiro, RuPaul’s Drag Race também teve um impacto significativo, inspirando novas gerações de artistas e popularizando a arte drag no país, promovendo aceitação e diversidade cultural.


Expressão, Autoconhecimento e Empoderamento


A arte drag é um poderoso instrumento de expressão e transformação que vai muito além do entretenimento. Para muitos artistas, esse processo representa uma jornada de autoconhecimento e empoderamento, proporcionando a exploração de diferentes aspectos da própria identidade. Através da criação de personagens e performances, os artistas desafiam normas de gênero de maneira criativa e irreverente, encontrando na transformação drag um ato de liberdade e resistência. Essa conexão profunda permite que explorem partes de si mesmos que, de outra forma, poderiam permanecer reprimidas.


Além disso, a arte drag se destaca como um movimento cultural e político que transcende o palco, servindo como um grito de resistência e liberdade. Ela aborda questões importantes sobre identidade, gênero e aceitação, subvertendo as normas sociais e destacando a riqueza dessa expressão artística, que busca dar visibilidade a grupos historicamente marginalizados. Também se afirma como um movimento transformador que não só enriquece a cultura, mas também promove uma visão mais inclusiva e diversa da sociedade. Ao desafiar convenções e celebrar a diversidade, ela inspira e contribui para uma sociedade mais aberta e receptiva às múltiplas facetas da identidade humana.

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